Atividade II - 1° ano - Língua Portuguesa

1) Leia o Texto 1: “O Paraíso Pacifista”, de Leandro Karnal. Em seguida, use o seu caderno para responder às seguintes questões: 

a)Com base nas ideias apresentadasn texto, comprove a ironia presente no título do texto e no período “Ninguém lutou por ódio.”

 b) Transcreva, indicando a linha, um excerto em que o autor mostre a inconsistência da crença de que, no Brasil, não houve guerra civil. 

c) Releia o texto. 

d) “Esta, a maior de todas, durou uma década, rachou o país em três Estados [...].” (linhas 10-11) Classifique morfologicamente o termo destacado e explique a importância dele na articulação entre as ideias na construção do texto. 

TEXTO  1 O
Paraíso  Pacifista

 O  quadro  pinta do  é  idílico.  Somos  uma  terra  sem  terremotos  e  furacões.  Sem  guerras  civis  nem fundamentalismos  extremados  que  levam  a  genocídios.  Somos  pacíficos.  Não  violentos.  Não  somos agressivos.  Não  odiamos.  Não  somos  preconceituosos.  Não  somos  racistas.  Esse  quadro não resiste ao  teste  da  história.  É  uma  de  nossas  ilusões,  criada  e  sustentada  ao  longo  de  séculos.

Para  começo  de  conversa,  tivemos  durante  a  nossa  história  dezenas  de  guerras  civis,  a  diferença  é que  nunca  usamos  essa  expressão  para  definilas.  Lembrem onos  de  algumas  delas.  Abrilada, movimento  de  Pernambuco  em  1824.  Cabanagem,  ou  Guerra  dos  Cabanos,  no  Pará  de  1835 1840. Sabinada,  movimento  na  Bahia  entre  1837  e  1838.  Balaiada,  revolta  ocorrida  entre  1838  e  1841  no Maranhão.  Revoltas  liberais  de  1842, os  movimentos  sediciosos  organizados  pelo  Partido  Liberal  em várias  partes  do  Brasil.  Revolução  Farroupilha, no  Rio Grande  do Sul,  em  1835.  Esta,  a maior de  todas, durou  uma  década,  rachou  o  país  em  três  Estados  (o  Império,  a  República  Riograndense  e  a Re pública  Juliana)  e  vitimou  mais  de  3  mil  pessoas.  

No século  XX,  aconteceu  a  Revolução Constitucionalista  de  São  Paulo,  em  1932. Cada  um  deles  prosseguiu  à  sua  maneira,  mas  foram  todos  movimentos  de  uma  província,  de  um estado,  contra  o  centro,  ou  contra medidas  centralizadoras.  Em  vários  deles,  como  no  Rio  Grande  do Sul,  chegaram  a  ter  Proclamação  da  República  e  projeto  de  separação  do  estado  em  relação  ao restante  do  país.  Em  outros  casos,  com  mortos,  guerra  e  até  genocídio,  como  o  que  ocorreu  no Maranhã o  durante  a  Balaiada,  ou  entre  Santa  Catarina  e  Paraná  no  início  do  século  XX,  durante  o Contestado.  Choques  violentos,  mortes,  medo,  perturbação. Em qualquer  outro  país  do  mundo,  chamaríamos  isso  de  guerra  civil.  Aqui,  não.  Aqui  evitamos  usar tal  express ão.  Guerras  civis  existiram  na  Argentina,  no  México  ou  nos  Estados  Unidos.

  Guerra  civil virou  uma  instituição  na  Colômbia,  tão  forte  que  os  colombianos  chegaram  a  usar  “Guerra  do  los  Mil Días”,  entre  o  fim  do  século  XIX  e  início  do  século  XX,  para  separar uma  guerra  civil  de  outra. Enquanto  nós,  brasileiros,  fugimos  do  uso  da  expressão,  os  norteamericanos  fundaram  sua nacionalidade  por  meio  da  guerra:  primeiro  uma  guerra  contra  o  Império  Britânico,  depois  uma guerra  entre  o  norte  e  o  sul  do  país,  depois  c ontra  o  México  e  contra  indígenas,  contra  alemães, contra  comunistas  e  contra  fundamentalistas  religiosos.  Mas  nós  rejeitamos  a  ideia,  o  conceito  e  o nome.  Rejeitamos  e  suavizamos  o  conflito,  afirmando:  “os  gaúchos  queriam  mesmo  era  a  defesa  de sua  dignidade”;  “o  que  os  paulistas  desejavam  era  uma  Constituição”;  “os  cabanos  lutavam  por igualdade  social”.  Ninguém  lutou  por  ódio. [...].

 (KARNAL,  Leandro.  Todos  contra  todos:  o  ódio  nosso  de  cada  dia.  Rio  de  Janeiro:  LeYa,  2017)

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